Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) em Piracicaba (SP)
desenvolveram uma técnica que torna infértil o mosquito Aedes aegypti, o
que pode ajudar a reduzir a infestação do inseto transmissor da dengue nos
centros urbanos. A pesquisa utiliza radioatividade para interferir no ciclo
reprodutivo do inseto.
“Usamos uma quantidade de energia que não mata o mosquito, mas provoca
mudanças em seu sistema biológico. O inseto até põe ovos, mas esses não eclodem
as larvas”, explicou Valter Arthur, coordenador da pesquisa, realizada no
Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), que funciona no campus da
Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP, em Piracicaba
(SP).
Os mosquitos são criados na empresa Bioagri, instalada em Charqueada
(SP), e seguem para o laboratório do Cena, local onde recebem a dose de raios
gama. “Iniciamos a pesquisa há pouco mais de três meses e ainda estamos
determinando a dose esterilizante”, relatou Márcio Adriani Gava, diretor
técnico da Bioagri.
Testes de Campo – Os testes de campo, com a soltura dos insetos estéreis no meio
ambiente, devem acontecer em até três anos. “Os machos copulam, mas não
fertilizam as fêmeas, que transmitem o vírus da dengue. Na prática, o ciclo
continua completo. Mas, como os ovos não geram nada, conseguiremos baixar
significativamente a infestação do mosquito e, consequentemente, os números da
doença”, explicou o coordenador da pesquisa.
Na próxima etapa da pesquisa, mosquitos machos estéreis serão liberados
na natureza para competir com os nativos. “Será uma forma simples de controle
biológico, onde se utilizará o próprio inseto para combatê-lo, sem o uso
indiscriminado de inseticidas”, relatou Valter Arthur.
Casos em Alta – Piracicaba teve, entre janeiro e junho, 2.712 casos confirmados de
dengue. Em 2007, quando o município sofreu um surto da doença, o número chegou
a 5.666. No final de junho, uma estudante de 26 anos que sofria de hipertensão
pulmonar morreu após ter o quadro de saúde agravado por contrair A dengue. Ela
morava no bairro Pauliceia, uma dos mais atingidos pela doença na cidade.
O Ministério da Saúde registrou 286.011 casos de dengue no país de
janeiro a abril de 2012. A Região Sudeste tem o maior número de casos: 119.396
(41,7% do total nacional).
Pesquisa Inédita – A pesquisa do Cena é inédita no Brasil, segundo a assessoria de
imprensa do instituto. O trabalho será apresentado durante o Congresso Brasileiro
de Entomologia, que acontecerá em Curitiba (PR) entre 16 e 20 de setembro. No
dia 7 de julho, na Bahia, o Ministério da Saúde anunciou o início da produção
em larga escala de mosquito transgênico infértil. A diferença, nesse caso, é
que o inseto transmissor da dengue é modificado geneticamente, e não irradiado,
como na pesquisa da USP.
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