A inclusão de um novo biocombustível no topo da matriz energética
renovável brasileira está dependendo, segundo pesquisadores, de uma sinalização
clara do governo para estimular novos estudos e a produção, em escala, do
biogás no país. As pesquisas já apontam que o combustível tem potencial para
dividir espaço, em grau de importância estratégica para o setor, com o etanol e
o biodiesel.
A despeito do otimismo em relação ao potencial do biogás, as pequisas
brasileiras ainda seguem em um um ritmo lento, principalmente quando comparadas
a cenários como o da Alemanha, que reconhece como estratégico o combustível
produzido a partir de resíduos e composto por metano e dióxido de carbono.
Apesar da confirmada capacidade do biogás em atender tanto à demanda por energia
elétrica quanto à por térmica ou mecânica, em larga escala, as iniciativas
brasileiras que poderiam garantir essa produção ainda são tímidas.
Algumas empresas produzem o biogás a partir da decomposição da matéria
orgânica de aterros sanitários. No Aterro Sanitário de Gramacho, fechado,
recentemente, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por exemplo, está
sendo construída uma usina de biogás que será produzido a partir do lixo e
utilizado pela comunidade local, substituindo o gás natural.
Esta semana, foi criado o Centro de Estudos do Biogás, no Parque
Tecnológico Itaipu (PTI), em Foz do Iguaçu, no Paraná, com a promessa de gerar
informações e dados científicos sobre toda a cadeia de suprimentos do
biogás.Ainda no sul do país, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) vem estudando a produção do combustível a partir de dejetos de
suínos.
O biogás é visto como componente importante para manter a participação
das fontes de energia renováveis na matriz energética do país, diante da
expectativa de aumento de demanda por energia. Atualmente, as energias
renováveis, tanto a partir de biomassa [etanol, biodiesel e biogás], quanto
eólica e solar, respondem por quase a metade das fontes da matriz energética
brasileira.
“É preciso que o governo sinalize com uma proposta para este setor, como
fez com o biodiesel e com o etanol, desde a regulamentação até a criação de
incentivos”, defende Manoel Teixeira Souza Júnior, chefe-geral da Embrapa
Agroenergia. Segundo ele, a expectativa não é a de ampliar a participação das
energias renováveis, mas, ao menos, manter a relação entre renováveis e não
renováveis com o esperado aumento do consumo energético do país.
“Estamos mantendo o foco na biomassa, tanto na desconstrução para
produção de energia principalmente de biocombustíveis, como para obtenção de
químicos a partir de produtos naturais (plantas) que podem agregar valor à
cadeia produtiva, como é o caso do biogás”, disse.
No caso de renováveis a partir de biomassa, o Brasil, apesar de ser um
dos líderes do setor, ainda precisa enfrentar alguns gargalos que, se não forem
solucionados, podem afetar outras produções como a do biogás. O etanol
brasileiro, por exemplo, foi alvo de recente crise, que, segundo especialistas,
foi resultada por falhas de planejamento. O número de carros flex produzidos no
país foi superior ao estimado e os produtores ainda enfrentaram problemas
climáticos que afetaram as safras de cana-de-açucar. O Brasil que exportava
passou a necessidade de importar o produto.
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