Com a extinção de espécies, desaparecem também o valor econômico por
elas gerado e inúmeras possibilidades inexploradas para o tratamento e a cura
de doenças.
A tartaruga-de-couro vive na costa do Suriname, pode chegar a 2,5 m
comprimento e pesar até 700 kg – ela é a maior espécie de tartaruga marinha do
mundo. Mas o extraordinário tamanho e peso não oferecem nenhuma proteção diante
das ameaças das mudanças climáticas.
A reprodução dessas tartarugas gigantes é muito sensível ao aumento da
temperatura: se a areia onde ela coloca seus ovos estiver muito quente,
nascerão mais fêmeas. Assim, haverá um desequilíbrio na próxima temporada de
acasalamento. Além disso, se o nível do mar aumentar, muitos locais adequados
para a reprodução serão perdidos.
Diante de tudo isso, a população dessas tartarugas está ameaçada. Esse
réptil gigante é um dos muitos animais que fazem parte da lista vermelha de
espécies ameaçadas de extinção, elaborada pela União Internacional para a
Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês).
Segundo especialistas, se nada for feito para proteger as
tartarugas-de-couro, que existem há 65 milhões de anos, eles desaparecerão em
poucos anos.
Mudanças Climáticas e Biodiversidade – Segundo as Nações Unidas, um aumento de até dois
graus na temperatura média do planeta implica que uma em cada cinco espécies
correrá risco de extinção – a Terra está diante da maior ameaça de extinção em
massa desde o desaparecimento dos dinossauros.
A contribuição do aquecimento global para a extinção de animais é tema
de amplos debates entre os cientistas. Muitos afirmam que a ameaça de extinção
resulta da combinação de diversos fatores, como a poluição – que aumenta os
efeitos das mudanças climáticas – ou a caça.
A especialista Wendy Foden, da IUCN, diz que as mudanças climáticas já
afetam a vida de muitas espécies, por exemplo alterando os seus hábitos
migratórios. “É possível encontrar animais onde eles nunca haviam estado
antes”, diz Foden. “Algumas espécies estão migrando para regiões mais frias. Na
América do Sul, isso significa mais ao sul, ou para as montanhas.”
Nemo, o Embaixador dos Defensores do Clima – Já os habitantes dos mares têm poucas chances de
escapar: o aumento da quantidade de dióxido de carbono no ar modifica o pH da
água do mar, um processo que altera o habitat de inúmeras espécies.
Foden usa o exemplo do peixe-palhaço para explicar o efeito dessa
mudança na vida marítima. “O dióxido de carbono deixa a água do mar mais ácida
e com isso o peixe-palhaço perde seu olfato.” Esse sentido auxilia os peixes a
distinguir substâncias ao seu redor. Os alevinos se orientam dessa maneira para
encontrar um recife seguro.
Agora os especialistas do IUCN querem utilizar a popularidade do
peixe-palhaço para conscientizar as pessoas sobre os efeitos das mudanças
climáticas. “Todo mundo conhece o peixe-palhaço do filme Procurando Nemo”, diz
Foden.
Perdas para a Humanidade – A perda da biodiversidade afeta também o ser
humano. Numa pesquisa realizada na Alemanha, dois terços dos entrevistados
responderam que a redução da variedade de espécies afetaria sua vida, mas que
esse efeito seria observado, principalmente, nas suas horas de lazer e em
atividades na natureza.
Na verdade, os efeitos são bem mais amplos. A iniciativa Economia dos
Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB, na sigla em inglês), lançada pela
Alemanha e pela Comissão Europeia, procura calcular o valor financeiro dos
ecossistemas. Ela afirma, por exemplo, que o serviço de polinização feito pelos
insetos vale cerca de 110 bilhões de euros.
Porém, o estudo do TEEB não é capaz de determinar com precisão os custos
da perda de diversidade, simplesmente porque muitas espécies nunca foram
identificadas.
Novos Remédios – Cerca de 1,9 milhão de espécies estão catalogadas – apenas uma
pequena parte do total existente. Especialistas estimam que cerca de cem
espécies são extintas por ano. Como a função delas no ecossistema é
desconhecida, os cientistas não podem calcular os efeitos de seu
desaparecimento.
A equipe da pesquisadora alemã Gudrun Mernitz isolou mais de cem
substâncias de microorganismos do mar. Agora, o potencial delas para
medicamentos está sendo pesquisado. “Algumas delas podem ser úteis para o
tratamento de diversos tipos de câncer”, diz a bióloga.
Cerca de 6% dos medicamentos descobertos nos últimos dez anos foram
desenvolvidos a partir de substâncias naturais, diz Rolf Hömke, da VFA, uma
associação de pesquisa da indústria farmacêutica. Essas substâncias podem vir
de qualquer lugar, por exemplo do intestino de um percevejo.
Assim, o Triatoma Infestans, conhecido no Brasil como barbeiro, originou
um novo remédio para vítimas de enfarte. A biodiversidade esconde inúmeras
possibilidades para a medicina.
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