Pesquisa realizada em sete rios do interior de São Paulo testou
aperfeiçoamentos do Índice de Comunidade Fitoplantônica (ICF), baseado na
presença e composição do fitoplâncton, um dos indicadores adotados para avaliar
a qualidade da água, inclusive à destinada ao abastecimento público. As
mudanças adotadas no trabalho tornaram o ICF mais preciso quando comparado com
os outros parâmetros fisico-químicos e microbiológicos adotados no
monitoramento da água de rios. As análises do biólogo Arnaldo Tiago Ribeiro Amorim
de Oliveira, realizadas em estudo da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP,
revelam que apenas dois rios avaliados com o índice modificado apresentaram
água com boa qualidade.
O fitoplancton é composto por algas e cianobactérias que habitam os ambientes
aquáticos. A pesquisa revisou o ICF, um dos índices multimétricos desenvolvidos
e utilizados pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) no
monitoramento qualidade das águas do Estado. “Rios degradados apresentam carga
orgânica e concentrações de nitrogênio e fósforo elevados, fazendo que apenas
alguns grupos de organismos do fitoplancton mais resistentes à estas condições
se desenvolvam. Essa dinâmica serve de indicador do comprometimento da
qualidade ambiental”, diz o biólogo. “Além do ICF, o monitoramento considerou
dados físico-químicos, microbiológicos e os outros índicadores ambientais
comumente utilizados, como o Índice de Vida Aquática (IVA) e o Índice de Estado
Trófico (IET), relacionado a presença de substâncias que influenciam no
desenvolvimento das algas”.
A pesquisa adaptou para utilização em rios a metodologia utilizada para
verificação do ICF em reservatórios de água. “Nos rios a densidade do
fitoplâncton, ou seja a quantidade de organismos existentes, tende a ser
menor”, aponta Oliveira. “Os critérios de indicação da qualidade da água do ICF
foram ampliados com o estabelecimento de cinco níveis: excelente, boa, regular,
ruim e péssima. Desse modo, a avaliação acompanhou com mais fidelidade os
resultados obtidos nas demais medições”.
O novo critério de avaliação do ICF, combinado com outros parâmetros
físico-químicos (precipitação, vazão, temperatura, pH, oxigênio dissolvido,
turbidez, condutividade, carga orgânica e nutrientes) e microbiológicos
(Coliformes termotolerantes e clorofila), além da comparação com os padrões da
Resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), conseguiu separar
de forma bastante precisa os rios conforme a sua qualidade da água. “Nos rios
Sorocamirim, próximo a São Roque e Atibaia, ela é boa. No Corumbataí, na região
de Piracicaba, e no São Miguel Arcanjo, é regular”, conta o biólogo. “A pior
qualidade da água foi verificada no rio Piracicaba, que teve dois pontos de
coleta, no Água do Norte, próximo a Marília, e no rio Jundiaí-Mirim”.
Fitoplâncton – As análises realizadas em oito pontos de coleta durante um ano, com
medições bimestrais, também identificou os grupos mais característicos do
fitoplâncton existente nestes rios. “Houve um maior predomínio de diatomáceas,
organismos que foram associados a condições mais satisfatórias da qualidade da
água”, relata Oliveira. “Também foram identificados outros grupos como
clorofíceas, flagelados e cianobatérias, sendo as últimas relacionadas com a
água de qualidade péssima no índice, devido ao potencial de produção de toxinas
nocivas, bem como relacionado aos outros dados”.
O biólogo destaca que as características hidráulicas e hidrológicas dos
rios influenciaram na densidade do fitoplâncton. “Normalmente, a densidade das
espécies é menor nos rios, mas alterações como a construção de barragens e a
presença de lagoas marginais ao longo do rio aumentam essa concentração”,
afirma. “O índice pode fazer parte de uma rotina de biomonitoramento, pois
refletiu de forma mais sensível os outros parâmetros de qualidade, e os
resultados da pesquisa indicam que o controle da poluição deve ser melhorado em
alguns dos locais”.
A pesquisa faz parte de dissertação de mestrado apresentada na FSP em
outubro de 2012, orientada pelo professor José Luiz Negrão Mucci. Oliveira
lembra que alguns grupos de cianobactérias existentes no fitoplâncton podem
produzir toxinas que causam riscos à saúde humana em caso de consumo da água.
“Índices de qualidade da água como este, além de facilitar a compreensão
dos dados de monitoramentos, fornecem uma indicação dos grupos que mais ocorrem
nos rios e permite a elaboração de planos de prevenção e acompanhamento de
medidas de controle”, ressalta o biólogo. “Também outros tipos de algas podem
proporcionar gosto e odor na água, tornando-a inadequada para o consumo”.
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