Um grupo internacional de cientistas que interrompeu ano passados seus
estudos controversos com o vírus mortal da gripe aviária afirmou que está
reiniciando seus trabalhos, ao mesmo tempo em que alguns páises adotam novas
regras para garantir a segurança destas pesquisas.
A repercussão começou quando os dois laboratórios – um na Holanda e
outro nos Estados Unidos – anunciaram que conseguiram criar uma versão do vírus
de transmissão mais fácil. Isso iniciou um debate sobre as consequências desta
pesquisa e se ela poderia ser usada por terroristas, e os pesquisadores
voluntariamente concordaram em interromper seu trabalho em janeiro do ano
passado – e mais de trinta dos maiores especialistas em gripe aviária também
entraram no embargo.
Nesta quarta (23) os mesmos cientistas anunciaram que a moratória acabou
porque a pausa nas pesquisas havia cumprido sua função, que era de dar tempo ao
governo americano e outras autoridades mundiais para determinar como seriam
supervisionadas pesquisas envolvendo microorganismos de alto risco.
Alguns países já emitiram novas diretrizes, enquanto os Estados Unidos
está terminando seu conjunto de regras, um processo que Anthony Fauci, do
Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês) disse que deve estar
completo em algumas semanas.
Em cartas publicadas em conjunto pelos periódicos Science e Nature nesta
semana, os cientistas escrevem que quem cumprir os requisitos de seu país tinha
o dever de reiniciar os estudos de como o vírus da gripe aviária poderia se
tornar uma ameaça ainda maior aos seres humanos, com potencial de ser a próxima
pandemia. Até agora, o vírus, conhecido como H5N1, se espalha principalmente
entre frangos e outras aves e raramente infecta pessoas.
“O risco já existe na natureza. Não fazer a pesquisa nos coloca em
perigo,” disse Yoshihiro Kawaoka, da Universidade de Wisconsin-Madison. Ele e
Ron Fouchier (considerado um dos dez cientistas de 2012 pela Nature ), da
Universidade Erasmus, na Holanda, criaram em estudos separados as novas cepas,
que se transmitem pelo ar.
A controvérsia se inflamou há um ano, quando autoridades dos Estados
Unidos, incitados pelas preocupações de um comitê de biossegurança, pediu aos
dois laboratórios que não publicassem seus resultados . Eles tinham medo que
terroristas usassem a informação para criar uma arma biológica. De maneira
geral, os cientistas discutiam se criar novas variantes de doenças seria uma
boa ideia, e se sim, como prevenir acidentes de laboratório com estas amostras.
No fim, a vontade dos pesquisadores prevaleceu: o governo decidiu que os
dados não impunham nenhuma ameaça imediata de terrorismo, e os dois trabalhos
foram publicados há oito meses .
Fouchier afirmou que suas novas pesquisas começarão em poucas semanas na
Holanda, com financiamento europeu, e terão como objetivo descobrir exatamente
quais mutações são as maiores ameaças. Ele disse que o trabalho pode ajudar os
cientistas a acompanhar como a gripe aviária evolui no ambiente selvagem.
Os pesquisadores financiados pelos Estados Unidos, no entanto, terão que
esperar até que as diretrizes sejam finalizadas. Mas o NIH pagou pela pesquisa
original, que teria sido aprovada pelas novas regras, afirmou Fauci à AP. Elas
criaram mais uma etapa de revisão em estudos de alto risco, para garantir que
eles valham a pena cientificamente e que preocupações sobre bioterrorismo sejam
atendidas em primeiro lugar, explicou.
Se estas regras estivessem valendo um ano atrás, elas teriam evitado
todo o debate, disse Fauci: “Nossa resposta teria sido, sim, analisamos
cuidadosamente e os benefícios superam os riscos, ponto final.”
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