O clone, de apenas dez dias (Foto:
Divulgação/In Vitro do Brasil)
O primeiro clone de equino no Brasil carrega o material genético do
Mangalarga Turbante, que viveu numa fazenda em São José do Rio Pardo (SP) e é
considerado o maior garanhão do século passado: ele teve 1.648 filhotes.
Turbantinho nasceu há 10 semanas em um laboratório de Mogi Guaçu, na região de
Campinas (SP).
O Mangalarga mais famoso da raça fica em uma baia isolada, onde poucos
podem entrar. Autorização para fotos ou gravação nem pensar. Só a mãe, uma égua
sem nome e nem raça definida, que serviu de “barriga de aluguel”, pode receber
visita. Com Turbantinho, o cuidado é tanto que sempre tem um veterinário por
perto, 24 horas por dia.
Tiago Rodrigues Bueno é um deles e passa a noite ao lado do potrinho.
“Tomamos conta para que não tenha barulho, para que não estresse os animais. O
Turbante era filho do seu José Oswaldo Junqueira, um dos grandes nomes do
Mangalarga. Hoje, o Turbante é filho do Brasil”, falou Tiago.
Tantos cuidados tem um motivo: o Turbante original foi o maior garanhão
Mangalarga do século passado. Entrou para o livro dos recordes como o maior
reprodutor. O sêmen chegou a ser vendido por US$ 10 mil dólares a dose, mais de
R$ 21 mil. José Oswaldo Junqueira tinha tanto orgulho, que ergueu uma estátua
do cavalo na fazenda em Rio Pardo.
Na época, o fazendeiro chegou a recusar uma proposta de US$ 1 milhão
pelo Mangalarga. O cavalo morreu em 1998 e como o neto do fazendeiro era um
veterinário visionário, antes de o Turbante morrer, ele e a equipe coletaram um
pedaço de pele do animal e congelaram. Ele acreditava que um dia a ciência
pudesse criar um novo Turbante.
“A gente tem que pensar no futuro e no que o povo do futuro vai estar
pensando”, falou o veterinário João Junqueira Fleury, em entrevista concedida
em fevereiro de 1998. E a veterinária Perla Fleury, completou em fevereiro de
2003: “A gente tem um material guardado pra quando a técnica estiver aí poder,
de repente, clonar o turbante”.
Quatorze anos depois a ciência torna realidade o sonho do fazendeiro. A
técnica foi desenvolvida em um laboratório de Mogi Guaçú. Os pesquisadores
colheram um óvulo de uma égua e retiraram o DNA. Depois, o material genético do
Turbante, que estava no tecido do cavalo, foi fundido ao núcleo do óvulo da
doadora por meio de uma corrente elétrica. O óvulo foi fertilizado com uma nova
informação genética. Em seguida os pesquisadores fizeram a inseminação em outra
égua, que apenas gerou o animal, sem transmitir o DNA.
“Depois que você mostra que a técnica dá certo, que é possível fazer,
todas as pessoas que têm um animal de valor, de estimação ou que precise ser
perpetuado, vão ter interesse em fazer”, observou a veterinária Andrea Basso.
Nascimento – Perla é sócia da empresa de clonagem. O marido dela era o jovem
veterinário que sonhava com a clonagem. Ele e o avô morreram antes da técnica
ser aplicada, mas Perla acompanhou de perto o nascimento. “O Turbante que
nasceu agora no dia 10 de setembro é uma cópia idêntica do Turbante que nasceu
em 1969”, garantiu.
O Brasil foi o terceiro país do mundo a realizar uma clonagem de equino.
E o sucesso da experiência veio em dose dupla. Utilizando a mesma técnica,
outro animal da família também foi clonado. A potrinha Cascata é uma cópia
idêntica de uma égua que era neta do Turbante original. Na época, a diferença
de idade entre avô e neta era de 24 anos. Com a clonagem, as duas gerações
voltam a se encontrar, só que com uma diferença de idade bem menor. A Cascata
nasceu apenas 24 horas depois do avô.
Hoje, ele e a neta vivem lado a lado, são da mesma geração. E o Turbante
está de volta para reforçar a fama e corrigir o único defeito que o antigo dono
encontrou no cavalo.“O seu José disse que o único defeito do Turbante era não
ser eterno, e nós ficamos muito felizes porque se existia esse defeito, hoje
nós conseguimos eternizar o Turbante, então, de certa forma, isso deixou de ser
um defeito”, comemorou Perla.
Nenhum comentário:
Postar um comentário