A aeronave Faam, do
Serviço Meteorológico Nacional do Reino Unido, vai sobrevoar a Amazônia durante
20 dias para estudar as emissões de gases provenientes de queimadas. (Foto:
Divulgação/Faam.ac.uk)
Uma aeronave pertencente ao Met Office, o Serviço Nacional de
Meteorologia do Reino Unido, equipada com instrumentos de última geração, vai
estudar as queimadas na Amazônia brasileira. Durante três semanas, ele vai
sobrevoar cinco estados para investigar os impactos que o fogo na floresta têm
sobre a mudança climática e a qualidade do ar no Brasil.
Inédita, a expedição científica denominada Sambba (sigla em inglês para
“Análise Sul-americana de Queima de Biomassa”, em tradução livre), vai reunir
64 cientistas brasileiros e britânicos e o jato Faam BAE-146, já utilizado em
outros projetos ambientais.
Coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pelo
Met Office, o estudo conta ainda com o apoio das universidades de São Paulo
(USP), de Manchester e de Leeds, ambas britânicas.
Os pesquisadores sobrevoarão entre 14 de setembro e 4 de outubro os
estados do Amazonas, Mato Grosso, Pará, Acre e Rondônia, totalizando cerca de
80 horas de voo. O período escolhido é considerado o auge da ocorrência de
queimadas na Amazônia Legal – que engloba nove estados do país.
Melhorias na previsão e investigações científicas – Segundo Carla Longo, cientista do Inpe
especializada na área de química da atmosfera e coordenadora brasileira do
Sambba, o projeto obterá informações que vão melhorar modelos de análise das
alterações climáticas no planeta, e ainda aperfeiçoar as previsões
meteorológicas e a medição da qualidade do ar.
“Nós avançamos muito nos últimos dez anos, mas ainda há questões
importantes. A quantificação das emissões [de gases das queimadas] ainda é
deficiente. Com a aeronave, vamos fazer a medida da cicatriz do fogo em tempo
real”, disse Carla ao G1.
De acordo com Carla, as queimadas são a principal fonte emissora de CO2
no Brasil.
“No período úmido [de chuvas], 90% das emissões do país são provenientes
da indústria e dos automóveis. Mas no período seco, entre agosto e setembro, a
situação muda e as emissões por queimadas ficam próximo de 90%”, explica.
Além disso, a fumaça atrapalha a visibilidade sobre extensas regiões e
pode afetar o regime de chuvas, já que as nuvens sofrem alterações – o que
afeta a produtividade da floresta amazônica e de seus recursos naturais, além
de potenciais econômicos.
Ela explica ainda que a partir das medições feitas pela aeronave, que
tem capacidade para cem pessoas, será possível criar um modelo que conseguirá
saber, no futuro, quanto de CO2 e outros gases foram liberados durante uma
queimada na região.
Dados do monitoramento de queimadas e incêndios contabilizados pelo Inpe
apontam que de 1º de janeiro a 5 de setembro deste ano, a Amazônia brasileira
registrou 141.893 focos de incêndio, contra 50.862 no mesmo período do ano
passado – ou seja, quase triplicou.
Políticas públicas – Ainda de acordo com a coordenadora do experimento,
a precisão das informações captadas pela aeronave – e posteriormente analisadas
pelos cientistas – poderá reforçar políticas públicas voltadas ao combate de
ações ilegais no bioma brasileiro.
“Hoje, por exemplo, o Ministério Público do Acre utiliza as informações
de queimadas na Amazônia como ferramenta jurídica para combater focos na
floresta, proibindo a queima. Quanto mais precisa for essa informações, mais
eficiente deverá ser as ações preventivas”, explica.
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