O Brasil ainda tem 4 mil lixões e apenas 30% a 40% do lixo total
coletado no país são dispostos em aterros sanitários adequados. Além disso, a
reciclagem é muito baixa no Brasil, segundo avalia o secretário da Associação
Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), Antonio Simões Garcia.
Ele informou que os serviços de aproveitamento de material descartado não
transformam no país sequer 2% do volume que pode ser reciclado.
À Agência Brasil, Garcia disse que estão “muito próximos da realidade”
os números divulgados na sexta-feira (14) na Pesquisa de Orçamentos Familiares
(POF) 2008-2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo
os quais apenas 40% do lixo separado dentro de casa pelos brasileiros são
coletados seletivamente ao chegarem na rua.
Alex Cardoso, da coordenação nacional do Movimento Nacional de Catadores
de Materiais Recicláveis (MNCR), acrescentou que, do total de lixões ainda
existentes no Brasil, 1,7 mil estão na Região Nordeste. “Chega a ter cidades
com dois lixões”, informou. O MNCR avalia que há grande mobilização da
sociedade em torno da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que exige a coleta
seletiva para municípios com mais de 30 mil habitantes.
Na avaliação de Cardoso, no entanto, esse processo ainda é “tímido” no
Brasil, “porque a política já tem dois anos e cerca de 40% dos municípios
brasileiros ainda têm lixões e não dispõem de sistema de coleta seletiva”. O
integrante do MNCR lembra que, até 2014, os lixões terão que ser desativados.
Segundo ele, com a implantação da coleta seletiva e a desativação dos lixões,
haverá também a inclusão dos catadores.
O MNCR está preocupado com a disposição de alguns municípios de
incinerar os resíduos para geração de energia. Alex Cardoso avaliou que essa é
uma atividade negativa. Além de ser uma tecnologia cara, não inclui os
catadores e é prejudicial à saúde humana e ao meio ambiente, na medida em que
libera gases causadores do efeito estufa.
Rita Sairi Kogachi Cortez, técnica do Instituto Gea, disse à Agência
Brasil que o avanço do país em coleta do lixo “é muito pequeno em relação ao
número de resíduos gerados”. Ela ponderou, contudo, que o “despertar” da
população está ocorrendo, porque as pessoas se mostram interessadas em
participar cada vez mais do processo de separar o seu lixo.
Segundo ela, é necessário que se criem mais coletas e mais cooperativas
de catadores, “para que a coisa possa caminhar melhor no Brasil”. O Instituto
Gea é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que tem
entre as finalidades assessorar a população a implantar programas de coleta
seletiva de lixo e reciclagem.
A defesa dessa estratégia é compartilhada por André Vilhena, diretor do
Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), associação sem fins
lucrativos dedicada à promoção da reciclagem com base no conceito de
gerenciamento integrado do lixo. Disse que, nos últimos dois anos, desde a
aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, “houve um incremento
significativo [das atividades de reciclagem], mas ainda muito longe do
desejado”.
Vilhena comentou que, nesse período, cresceu o número de prefeituras
oferecendo serviço de coleta seletiva ou ampliando o serviço onde já existia. O
problema para a desativação dos lixões, segundo ele, é que a população
brasileira se concentra nos grandes centros, em especial próximos ao litoral.
“Se nós conseguirmos avançar nessas regiões de maior densidade populacional,
com certeza nós vamos equacionar boa parte do problema”.
O diretor do Cempre disse que, para ter todo o território com a situação
equacionada, existe a possibilidade de os municípios serem apoiados, por meio
de financiamento do governo federal, para a formação de consórcios que vão
elaborar os planos de resíduos e construir os aterros sanitários.
Segundo o diretor do Cempre, se forem formados 450 consórcios no Brasil,
a questão será resolvida, “porque, em alguns estados, um aterro sanitário pode
atender até 150 municípios”. Para ele, a solução é a melhor também pelo ponto
de vista econômico. “Não faz sentido você ter um aterro sanitário para
municípios com 10 mil ou 15 mil habitantes”.
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